A Doença de Alzheimer é a principal causa de demência no mundo e afeta milhões de pessoas, sobretudo mulheres idosas. Estudos apontam que o sexo feminino apresenta maior propensão ao diagnóstico, fenômeno explicado por uma combinação de fatores biológicos, sociais e comportamentais. A médica de família e comunidade Inoã Viana, pós-graduada em geriatria, especialista em cuidados ao idoso e prescritora de cannabis medicinal, detalha os sinais iniciais, os desafios do diagnóstico e as razões pelas quais as mulheres são mais impactadas pela enfermidade.
Segundo a médica, o primeiro passo é compreender que o esquecimento, comum em todas as idades e especialmente presente nas rotinas sobrecarregadas das mulheres, não é, por si só, um indício de Alzheimer. “Após os 60 anos, os familiares ficam mais atentos a episódios de perda de memória, temendo um quadro demencial. Para diferenciar esquecimentos benignos de alterações mais graves, realizamos testes cognitivos em consultório, avaliando memória, cálculo, desenho, repetição e orientação temporal e espacial. Também observamos a autonomia do paciente no dia a dia, como o manejo de finanças, a alimentação e o autocuidado com a higiene”, explicou.
Por que as mulheres são as mais atingidas?
De acordo com Inoã Viana, existem cinco motivos principais que ajudam a entender a maior prevalência da doença no público feminino. O primeiro é a longevidade: como as mulheres vivem, em média, mais do que os homens, estão mais expostas à idade avançada, fator de risco determinante para o Alzheimer. O segundo é hormonal: o estrogênio exerce efeito neuroprotetor, mas a queda brusca do hormônio durante a menopausa pode favorecer o aparecimento da doença.
O terceiro aspecto está ligado à saúde mental. “Quadros de ansiedade e depressão são mais frequentes nas mulheres e, quando não tratados de forma adequada, aumentam significativamente o risco de desenvolver demência na velhice”, observou a médica. A quarta razão tem origem social: as mulheres das gerações passadas tiveram menos acesso à educação formal, e o estímulo cognitivo proporcionado pelo estudo é considerado um importante fator de proteção. Por fim, a especialista destaca um elemento cultural: a tendência de silenciar queixas. “Muitas pacientes minimizam seus sintomas diante do médico e dos familiares. Esse silêncio retarda a procura por ajuda e pode fazer com que percamos um tempo precioso para o diagnóstico e início do tratamento”, disse.
O impacto da ausência e o cuidado cotidiano
Um dos relatos mais frequentes de familiares é a sensação de que o ente querido “não está mais ali”. Para a médica, esse sentimento se deve à perda da memória recente, que é a mais afetada no Alzheimer, enquanto lembranças antigas permanecem preservadas por mais tempo. Estratégias como a musicoterapia, popularizada pelo documentário Alive Inside, podem reacender recordações e trazer momentos de conexão.
No cotidiano, Inoã Viana recomenda a manutenção de uma rotina previsível, a criação de um ambiente acolhedor e o estímulo a atividades prazerosas que fizeram parte da vida do paciente. Fotografias, músicas antigas e conversas sobre vivências passadas também ajudam a preservar a dignidade e a fortalecer os vínculos familiares.
Avanços terapêuticos e esperança
O diagnóstico de Alzheimer ainda é de exclusão, ou seja, outras causas de alteração cognitiva precisam ser descartadas antes da confirmação. Embora o tratamento definitivo não exista, terapias medicamentosas já disponíveis conseguem retardar a progressão da doença. Em 2025, o Brasil aprovou o uso do donanemabe, medicamento injetável que atua na remoção das placas de proteína beta-amiloide, associadas à degeneração do sistema nervoso central. Apesar da promessa, o alto custo e os riscos de efeitos colaterais, como micro-hemorragias cerebrais, limitam sua utilização.
Além dos fármacos tradicionais, a médica ressalta o papel de terapias complementares. “Musicoterapia, atividade física regular, terapia ocupacional e até a cannabis medicinal podem auxiliar no manejo de sintomas comportamentais, oferecendo mais qualidade de vida”, destacou.
Um olhar para o futuro
Para Inoã Viana, apesar dos desafios, é preciso cultivar esperança e promover acolhimento. “Ser cuidador é extremamente desafiador, mas também é possível construir novas conexões e dinâmicas com o ente querido. O diagnóstico de Alzheimer não deve ser visto como uma sentença, e sim como um convite para ressignificar a relação com o paciente e tornar a rotina mais leve”, concluiu.
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