![]() |
Nos últimos anos, o debate sobre saúde mental ganhou força, ultrapassando os consultórios e tornando-se uma preocupação social. Ansiedade, depressão e estresse crônico estão entre os transtornos mais comuns, afetando milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Mas, além dos tratamentos tradicionais, novas abordagens têm evidenciado o papel essencial da nutrição no equilíbrio da mente.
Estudos recentes apontam que a alimentação pode influenciar diretamente a saúde cerebral. Alguns nutrientes como ácidos graxos ômega-3, vitaminas do complexo B (B6, B9 e B12), ferro, magnésio, zinco e triptofano têm papel reconhecido na regulação do humor e na manutenção da saúde cerebral, atuando na síntese de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, na integridade das membranas neuronais e no controle do estresse oxidativo.
De acordo com a nutricionista especialista em Saúde da Família pela UNIFASE Alessandra Sales, existe uma ligação direta entre o intestino e o cérebro — conhecida como eixo intestino-cérebro —, que explica como a microbiota intestinal participa na regulação do humor e da cognição.
“A microbiota intestinal influencia significativamente sobre a saúde mental através do “eixo intestino-cérebro”, um sistema de comunicação bidirecional formado por vias neurais, endócrinas, metabólicas e imunológicas. A microbiota produz neurotransmissores como, por exemplo, a serotonina; interage com o sistema endócrino produzindo o cortisol e outras substâncias ligadas à resposta ao estresse; além disso, regula processos inflamatórios e imunológicos impactando a integridade da barreira hematoencefálica e a função cerebral. Inclusive, estudos mais atuais associam a disbiose com o maior risco de depressão, ansiedade e doenças neurodegenerativas”, diz ela.
Por isso, uma alimentação rica em frutas, vegetais, leguminosas, cereais integrais, peixes e oleaginosas se mostram protetoras contra sintomas depressivos, enquanto o consumo elevado de ultraprocessados, açúcares e gorduras saturadas tende a aumentar os riscos de desenvolver transtornos mentais.
“O consumo frequente de alimentos ultraprocessados está associado a diversos riscos para a saúde mental, uma vez que são ricos em açúcares adicionados, gorduras trans, sódio e aditivos químicos, e afetam não apenas o metabolismo físico, mas também processos neurológicos e psicológicos, prejudicando a síntese de serotonina e dopamina; aumentando marcadores inflamatórios e o risco de síndrome metabólica; alterando a microbiota intestinal e impactando negativamente o “eixo intestino-cérebro”, explica a especialista.
A visão integrada propõe que corpo e mente sejam tratados em sintonia, respeitando a singularidade de cada paciente. O professor do curso de Psicologia da UNIFASE, o psicólogo Diogo Fagundes destaca a relação entre o alimento e o afeto.
“Desde o início da vida, o ato de comer está profundamente ligado ao afeto. A nossa primeira experiência de alimentação, quando o bebê é acolhido no colo e amamentado, une nutrição e carinho em um mesmo gesto. Essa vivência inicial cria uma conexão emocional com a comida, que vai se transformando ao longo do tempo, influenciada pelas relações familiares e pelos contextos sociais. Na vida adulta, muitas vezes, comer deixa de ser apenas uma necessidade fisiológica e passa a ser também uma forma de buscar conforto ou preencher carências afetivas. É aí que a nutrição e a saúde mental se encontram, entender essa relação é essencial para que possamos cuidar melhor de ambos os aspectos”, salienta o professor.
Ainda de acordo com a nutricionista não existe um padrão alimentar para a promoção do bem-estar psicológico.
“A saúde mental é resultado de uma interação complexa entre fatores biológicos, sociais, econômicos, culturais e psicológicos que determinam o modo como cada pessoa se alimenta. Nesse sentido, a atuação do nutricionista deve ir além da prescrição. Costumo dizer que, muitas vezes, o que um paciente menos precisa, em um primeiro momento, é de planejamento alimentar e orientações nutricionais. É essencial acolher, escutar ativamente, construir vínculo e trabalhar de forma multiprofissional e intersetorial, valorizando tanto os aspectos clínicos quanto os afetivos e sociais da alimentação. Portanto, não há um padrão “ideal”, que seja rígido e restritivo, mas sim uma construção coletiva envolvendo diversidade nutricional, prazer em comer, respeito à cultura alimentar e vínculo social em torno da comida. Esse conjunto, mais do que uma dieta específica, é o que contribui para o bem-estar psicológico e a saúde integral”, salientou Alessandra.
Postar um comentário
Gostou da matéria? Deixe seu comentário ou sugestão.