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O Centro Cultural Sesc Quitandinha recebeu no domingo (30) a 5ª edição do TEDxPetrópolis, que este ano abordou o tema “Cuidar é inteligente”, em alinhamento ao Countdown, iniciativa global do TED dedicada a acelerar soluções para a crise climática. Ao longo de três sessões, os palestrantes falaram sobre relações de cuidado com o território e a natureza, abordando como conquistar isso por meio da tecnologia, pautado no desenvolvimento econômico, científico, com referência aos povos originários e propondo novas abordagens educacionais e sustentáveis.

Organizadora e curadora do TEDxPetrópolis, Camila Miranda resumiu o espírito do encontro: “Eventos como esses nos convocam à reflexão, que estejamos abertos para um certo desconforto cognitivo que possa nos abrir para novas perspectivas”, diz a organizadora.


Reconexão humano/natureza

A atriz e influenciadora Mariana Bridi abriu a primeira sessão do evento dizendo sobre “O legado que plantamos”. Ela falou da infância ao lado da mãe Sônia Bridi – jornalista que se destaca em coberturas ambientais ao redor do mundo –, e recordou cenas que presenciou como o derretimento de geleiras.

Mariana reforçou a ideia de que não existe “jogar fora” quando todos vivemos em um mesmo planeta, e que pequenas escolhas como o aproveitamento de alimentos, consumo consciente e a preferência por produtos da estação fazem diferença. “O planeta não precisa que a gente faça tudo o tempo todo, mas que cada um escolha algo possível de ser feito todos os dias”, resumiu a atriz.

Na sequência, o pedagogo, educador ambiental e cofundador da Kaeté Educadora, Conrado Villa, apresentou a experiência da Floresta Escola, nascida na Escola Municipal Leonardo Boff, em Petrópolis. Ele retomou a ruptura histórica entre sociedade e natureza, especialmente a partir da Revolução Industrial, para questionar o papel da escola nesse modelo. Conrado propôs outro paradigma: a escola enraizada no território, em diálogo com a floresta e a comunidade. “Escolas não são paredes, escolas são pessoas”, lembrou ao defender o engajamento comunitário e o despertar das infâncias.

A primeira sessão seguiu com o jurista Daniel Augusto Vila-Nova Gomes, que falou sobre direitos indígenas, constituição e vulnerabilidade, e com o pesquisador Charles Fonseca, doutor pela UFMG, que apresentou caminhos para transformar restauração florestal e créditos de carbono em decisão econômica viável para pequenos produtores. Charles mostrou como as florestas prestam serviços essenciais como regulação térmica, qualidade da água e do solo, e defendeu que cuidar da floresta é também uma escolha racional de futuro.


Território, resiliência, enfrentamento e saúde mental

A segunda sessão aproximou a temática do clima ao cotidiano de Petrópolis, cidade marcada por desastres socioambientais. O engenheiro civil e professor da UFRJ, Leandro Di Gregorio, apresentou dados sobre o aquecimento global e os cenários projetados pelo IPCC até 2100. Ele explicou como o aumento da temperatura impacta a dinâmica das chuvas, a frequência de enchentes, deslizamentos e a vulnerabilidade das cidades.

Leandro trouxe exemplos de projetos em que atuou, no Brasil e exterior, e destacou as lições aprendidas em Petrópolis, com foco na experiência dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil (NUDECs) em territórios como Vila Rica, 24 de Maio e Vale do Cuiabá. “Precisamos de alertas mais precisos, de comunicação que não falhe quando falta energia, e de comunidades organizadas antes da emergência”, defendeu, reforçando a importância dos voluntários que atuam na linha de frente em situações de risco.

Logo depois a psicóloga Ariel Pontes, especialista em emergências e desastres, trouxe o olhar para o “peso invisível do trauma”. Ela convidou o público a imaginar seu lugar mais seguro sendo destruído em minutos, como acontece em situações de enchentes e deslizamentos, e refletiu sobre as marcas emocionais deixadas por essas experiências.

Ao dizer do luto, Ariel ressaltou que não se comparam dores e que reconstruir a vida depois de uma tragédia exige recursos internos, apoio comunitário e políticas públicas efetivas. “O coletivo salva, mas precisa ser valorizado, escutado. Precisamos deixar de ser uma sociedade apenas reativa e passar a ser preventiva, para que os números de mortes não continuem crescendo”, afirmou.

Em uma das falas mais marcantes do evento, a ativista e influenciadora indígena We’e’ena Tikuna trouxe a perspectiva dos povos originários sobre território, identidade e clima. Nascida na Terra Indígena Tikuna Umariaçu (AM), ela lembrou que antes da “coroa” da realeza, havia cocares, líderes e culturas indígenas no território hoje ocupado por Petrópolis.

We’e’ena falou sobre o apagamento das línguas e histórias indígenas, o racismo vivido ao sair do território para estudar na cidade, e a forma como os povos originários são frequentemente vistos como “passado”, e não como “presente”. Ela também lembrou que onde não há território indígena, há mais enchentes, calor extremo e mortes, e convocou as pessoas presentes a também serem guardiãs da floresta a reverem o próprio lugar na natureza.


Tecnologia e ciência: futuros possíveis em construção

Na última sessão do evento, o editor de tecnologia e inovação da Forbes Brasil, Luiz Gustavo Pacete, refletiu sobre corpo, luto, tecnologia e cuidado. A partir da experiência da perda do pai por câncer e de uma rotina intensa de performance profissional, falou sobre como a hiper conexão digital, mediada por algoritmos, afeta a forma como nos percebemos e relacionamos com a nossa própria humanidade mediada por tempo de tela e algoritmos.

Já a bióloga Ana Carolina Batista, coordenadora-geral do Biobanco do Rio de Janeiro, apresentou alternativas ao uso de animais em pesquisas, mostrando como modelos tridimensionais de tumores humanos em laboratório podem tornar tratamentos oncológicos mais assertivos, éticos e alinhados com o que a sociedade espera da ciência.

Na sequência, o antropólogo e comunicador Matheus Sodré discutiu o impacto das redes sociais em nossa atenção e na forma como enxergamos o mundo. Ele chamou de “permacrise” a diversidade de crises que consumimos diariamente pelas telas e defendeu a importância de recuperar autonomia sobre o próprio tempo e reconstruir laços coletivos fora do ambiente digital.

O encerramento ficou por conta de Julie Wein, PhD em Neurociências, pesquisadora do Instituto D’Or, além de cantora, compositora e pianista. Unindo ciência e arte, ela falou sobre o “cérebro musical” e como a música é capaz de ativar múltiplas regiões cerebrais ao mesmo tempo, tocando aquilo que nenhuma fórmula explica.

Ao relacionar escalas cósmicas, tempo e experiência humana, Julie mostrou como a música cria vínculos desde a comunicação entre mãe e bebê até a coesão social em diferentes culturas. “A música é onde o universo deixa de ser só cálculo e passa a ser experiência”, refletiu. Ao final, cantou a música “Trânsito de Marte”, de sua autoria.


Outros destaques

A edição 2025 do TEDxPetrópolis integrou também a jornada “Artistas pelo Clima”, realizada nas semanas anteriores com 12 artistas locais e regionais. Cinco deles tiveram suas obras expostas durante o evento e as demais integrarão uma coleção a ser exibida no Centro de Cultura Raul de Leoni, em Petrópolis. Além disso, a diretora executiva do Serratec, Thais Ferreira, e a engenheira ambiental e CEO da Equilibrium Soluções, Luciane Oliveira, realizaram um diálogo sobre meio ambiente, desenvolvimento econômico, responsabilidade empresarial e ESG.


Público

Aproximadamente 200 pessoas participaram do evento, entre elas o gestor de comunicação e eventos Francisco Brandão. “Saio com a certeza de que é possível encontrar soluções. Basta começar pequeno, com uma ação mínima que seja, mas que tenha poder de contagiar outras pessoas”, disse.

A empresária Priscilla Frias contou que se emocionou diversas vezes e elogiou a temática do evento: “Cuidar é inteligente”. “O cuidado se mostrou de variadas formas, o cuidado com a natureza, com o outro, com os animais, os pequenos cuidados que podemos fazer no nosso dia-a-dia”, refletiu. E completou: “tenho certeza que todo mundo que veio assistir saiu, de alguma forma, transformado, nem que seja um pouco”, concluiu Priscila.


Realização

A 5ª edição do evento teve o patrocínio do Colégio Pensi, da central de imagens Lumic, Editora Vozes, Hotel IBIS e Adega do Mineiro, além do apoio cultural do Sesc Quitandinha, Serratec, SSL Sound e da Agência Pólen. Diversas outras marcas apoiaram o evento com produtos que completaram a experiência dos palestrantes e público, como o Brownie do Ton, Vegzilla e Amarollate, além de parceiros de mídia.

Você pode ver a lista completa de parceiros do TEDx Petrópolis no site www.tedxpetropolis.com.br. Para assistir às palestras, é só seguir as redes sociais do evento, pois em breve serão lançadas na plataforma oficial do TEDx Global.

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