O projeto Conexão Verde vem enfrentando dificuldades nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) de resíduos instalados em Petrópolis. Apesar de a proposta ser facilitar o descarte correto de materiais recicláveis, muitas pessoas ainda têm utilizado as caçambas de forma incorreta, misturando lixo orgânico e resíduos contaminados aos recicláveis, o que inviabiliza todo o processo de reaproveitamento.


O problema ocorre principalmente porque a separação prévia dos resíduos, que deve ser feita pelo morador antes do descarte, não vem sendo respeitada. Quando o lixo orgânico é misturado a materiais como vidro, papel ou plástico, ocorre a contaminação, gerando chorume e mau cheiro, o que torna impossível a triagem e o envio desses resíduos para reciclagem.


Quando isso acontece, as cooperativas responsáveis pela triagem também enfrentam dificuldades: o chorume se espalha e danifica os materiais, comprometendo sua integridade e segurança. Além de atrair insetos e gerar riscos à saúde dos trabalhadores, a presença de resíduos orgânicos impede que o material seja separado manualmente, pois torna o processo insalubre e inviável. Dessa forma, todo o volume contaminado acaba sendo destinado ao aterro sanitário, em vez de retornar à cadeia produtiva como matéria-prima reciclada.


“Para que o material seja reciclado, ele precisa chegar limpo e separado. Quando há contaminação por restos de comida ou líquidos, perde-se toda a carga, e um trabalho que envolve desde a logística até os catadores acaba sendo desperdiçado”, explica o gestor da Opensat, César Magno, idealizador do projeto Conexão Verde.


Segundo César, existem situações em que as caçambas exclusivas para vidro, com capacidade para três toneladas, precisam ser descartadas integralmente porque chegam inutilizadas ao ponto de reciclagem. “O vidro é um material 100% reciclável e infinito em sua reutilização. Mas, quando é misturado com lixo orgânico, cimento ou até partes de sofás, como já aconteceu em nossos PEVs, todo o conteúdo daquela caçamba é perdido. Isso gera um impacto ambiental e econômico muito grande”, completa César.


Além de prejudicar o meio ambiente, o descarte incorreto também dificulta o trabalho dos catadores, que precisam lidar com resíduos contaminados, muitas vezes perigosos. O objetivo do projeto Conexão Verde é justamente conscientizar a população sobre a importância de cuidar do próprio lixo e entender o papel de cada um na cadeia da reciclagem.


Para fortalecer essa missão, o Conexão Verde acaba de ganhar um reforço de peso: a parceria com Sebastião Santos, líder comunitário, palestrante, escritor e ativista ambiental conhecido mundialmente por sua participação no documentário indicado ao Oscar “Lixo Extraordinário” (2011). Tião, que é uma das principais vozes do movimento nacional “Eu Sou Catador”, transformou sua história em uma bandeira pela dignidade dos catadores e pela disseminação da cultura da reciclagem no Brasil.


A iniciativa prevê a formação de uma cooperativa de catadores, com o objetivo de fortalecer o trabalho de coleta seletiva e ampliar as oportunidades de geração de renda e inclusão social. “O Tião representa o elo mais importante da cadeia da reciclagem: o ser humano que faz isso acontecer na prática. Tê-lo conosco é um passo enorme para transformar a conscientização em atitude”, afirma César Magno.

 

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