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Diogo Fagundes



por Diogo Fagundes Pereira*


A pandemia do SARS-CoV-2 (Covid-19 ou Coronavírus, como ficou popularmente conhecida) é uma emergente ameaça à saúde, que está associada a perdas de rotinas, por conta do isolamento social, assim como a perdas de vidas humanas.

 

Nesse contexto de perdas, sobretudo de vidas, importantes organizadores na resolução do luto não têm ocorrido de maneira habitual, por conta do risco de contaminação: os rituais de despedidas, as interações face a face, os possíveis agradecimentos ou pedidos de perdão, a definição de questões não resolvidas ao longo do percurso das relações, entre outros.

 

A velocidade da evolução da doença somados a outros fatores, como a imprevisibilidade da ideia de terminalidade e a ausência de rituais, importantes para elaboração do luto, tem ocasionado alguns prejuízos, como a sensação de angústia e negligência no enlutado pela falta de amparo prestado nos momentos finais de vida e, até mesmo, a negação da realidade dos fatos, advinda da não experiência de vivenciar a concretude da morte.

 

O luto normal é um processo normativo de adaptação a perdas, que envolve questões emocionais, cognitivas e mudanças comportamentais, sendo um processo importante na experiência de elaboração de perdas significativas. O luto é evocado pelo sujeito no sentido de fazer com que a dor não se eternize e também como possibilidade de organizar a separação do sujeito com a experiência da ausência. Diferente do luto patológico, que está mais relacionado com a intensidade e a duração das reações, sem progressão para a resolução ao longo do tempo, como por exemplo, pensamentos invasivos, recorrentes e persistentes sobre a pessoa que morreu, tristeza intensa, possíveis afastamentos de outras relações interpessoais e a percepção de falta de sentido de vida.

 

Parte do processo do luto é garantido pelos rituais fúnebres que ocupam um lugar primordial na organização mental e emocional do enlutado, como a aceitação da realidade da perda (pois quando não realizado, pode emergir a sensação de que a pessoa não morreu), o reconhecimento do sofrimento que a perda gerou e a adaptação ao contexto de vida sem a presença da pessoa falecida.

 

Contudo, na ausência dessa realidade no momento de pandemia, a adaptação de estratégias remotas para manter a “presencialidade” na vida do doente e os rituais alternativos têm oferecido oportunidades emocionais e cognitivas para lidar com as perdas. Para além dessas questões, o trabalho especializado com psicólogos tem ajudado na promoção do autocuidado e com estratégias de enfrentamento em relação as perdas significativas em que muitos estão atravessando neste momento.

 

(*)Psicólogo, pedagogo, pesquisador e professor da FMP/Fase

 

 


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