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Ana Maria Auler


Desde março (11) de 2020, o mundo vem enfrentando a maior crise sanitária do século: a pandemia de COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-coV-2). Nós, brasileiros, também fomos alcançados por ela e até o momento nos aproximamos de 250.000 mortes (dado de 25.fev.20). Com apenas 2,8% da população global, o Brasil terminou o ano de 2020 com 10,8% das mortes provocadas pela COVID-19 e mais de 9% do total de infectados pelo novo coronavírus em todo o mundo.

 

Nessa conjuntura, o governo federal realizou duas trocas de ministros da saúde num espaço de apenas 17 meses: Nelson Mandetta (02.jan.19 a 16.abr.20); Nelson Teich (17.abr.20 a 15.mai.20); o Brasil chegou a ficar sem ministro da Saúde por 10 dias, entre (16.mai.20 e 26.mai.20); e o general de divisão do Exército Brasileiro, Eduardo Pazuello, assumiu como interino em 27.mai.20, sendo efetivado somente em 16.set.20.

 

A atitude de negação da pandemia desde o seu início comprometeu a implementação de uma política de isolamento social. O governo federal deixou de assumir o comando das compras e da distribuição de testes, equipamentos de proteção individual e respiradores para os pacientes graves internados em UTI. O Ministério não promoveu tampouco um programa de comunicação social que alertasse a população a observar o isolamento e orientasse sobre o uso de máscaras e demais medidas preventivas.

 

Como principal autoridade sanitária do país, ao ministro da Saúde cabe principalmente assumir a coordenação das atividades de prevenção e controle da pandemia em todo o país, orientando e articulando as ações desenvolvidas pelas secretarias estaduais e municipais de saúde. Ao invés de assumir o comando central das relações interfederativas no Sistema Único de Saúde (SUS), o presidente da República e depois também o general ministro Pazuello, contribuem para a desorientação das autoridades estaduais e municipais, gerando inclusive conflitos com as mesmas que podem ter impactado no aumento dos números de casos e mortes evitáveis, que contrasta, neste sentido, com o de outros países de grande população.


No Brasil, desde 1988, contamos com um sistema de saúde público e universal, o SUS. Dispomos de uma enorme, embora insuficiente, rede de serviços de saúde, que vai desde a atenção básica até a alta complexidade, com milhares de trabalhadores (3 milhões de profissionais em atuação permanente), laboratórios de análises públicos e conveniados com capacidade diagnóstica e ainda institutos públicos de pesquisa e produção de fármacos e vacinas. Soma-se a isso um consolidado e reconhecido Programa Nacional de Imunização (PNI), que alcança os cantões mais escondidos de um país de dimensões continentais e inúmeras áreas remotas.

 

Ao lado da floresta Amazônica, Manaus acumula um total de 7.479 mortes (dados de 24.fev.20), número próximo à totalidade de óbitos (10.573) no Estado. Sem oxigênio para respirar, pacientes e profissionais de saúde clamam por ajuda. Não há e não houve campanhas e nem estratégias logísticas governamentais para tentar conter o colapso previsto. Contrariamente à situação, foram estimulados tratamentos precoces sem comprovação científica de eficácia, de modo a sustentar o negacionismo do governo atual. Enquanto a Inglaterra compra 3 vezes a quantidade de vacinas necessárias para sua população, nós tentamos desesperadamente saber quando seremos vacinados. 


O que poderíamos ter feito para sairmos melhor?

O governo federal deveria ter assumido as seguintes tarefas:

- Coordenar a distribuição e a aquisição de insumos, como testes, máscaras, luvas, entre outros, bem como, a aquisição e a distribuição de respiradores e o credenciamento de leitos de UTI;

- Planejar, juntamente com as secretarias estaduais, ações e estratégias de prevenção, manutenção e fortalecimento das linhas de cuidado para as outras necessidades de saúde durante a pandemia;

- Realizar campanhas de esclarecimento, divulgação e informação a respeito de todas as ações de prevenção;

- Investir na produção nacional dos imunobiológicos, fortalecendo os laboratórios nacionais como a Fiocruz e o Butantan, dentre outros, para diminuir a dependência de fabricantes estrangeiros e a consequente compra de vacinas por preços elevados;

- Fortalecer o PNI e sua rede de frio, visando alcançar e garantir para todos os municípios a oferta da vacina, ao menos da população considerada grupo de risco, neste primeiro momento;

 

Dessa forma, observando todas as pautas colocadas, todas as ações necessárias seriam possíveis, o que acabaria gerando um fortalecimento do SUS.

 

Refletindo enquanto  instituição de ensino e visando colaborar com esse grave e triste momento no país, como militantes pelo SUS, nos reunimos enquanto docentes e discentes pesquisadores da área e estamos construindo o projeto ObservaSUS (Observatório de Políticas e Práticas do SUS: ensino-pesquisa-extensão) no âmbito da FMP/UNIFASE em parceria com o Grupo de Pesquisa Saúde, Sociedade, Estado e Mercado, do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da UERJ. Nossa proposta consiste em reforçar a importância do SUS, através de estudos, diálogos e ações com os serviços de saúde e contribuindo para o processo de formação dos alunos na área de saúde.

 

[1] Ana Clara Banhato Correia - Estudante do 9º período curso de Medicina da UNIFASE/FMP.

[2] Ana Maria Auler M. Peres - Doutora em Saúde Coletiva, trabalhadora do SUS e Professora da UNIFASE/FMP.

[3] Lucas Manoel da Silva Cabral - Doutorando em Saúde Coletiva pelo IMS / UERJ.

[4] Daniela Lacerda Santos - Doutora em Saúde Coletiva, professora da UNIFASE/FMP.


(Edição: 26/02/2021)


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