Saúde mental também é assunto de criança e o cuidado com o tema desde a infância é fundamental para o seu desenvolvimento emocional, cognitivo e social. Em uma fase tão delicada da vida, a atenção ao comportamento dos filhos ajuda a garantir um crescimento saudável e equilibrado. Segundo o Dr. Paulo César, pediatra no Hospital Santa Teresa e especialista em psiquiatria da infância, em muitos casos, os pais ou responsáveis ficam horas excessivas em seus celulares, resolvendo problemas ou cuidando da casa, sem dar a atenção e o cuidado que as crianças e os adolescentes precisam para uma boa evolução mental.
Segundo o especialista, para evitar quadros de problemas mentais na infância e na adolescência, a rede de cuidado familiar precisa ter uma presença afetiva e efetiva na vida dos filhos. “Separe momentos na hora das refeições ou antes de dormir para a família se reunir e conversar sobre como foi o dia, abrindo espaço para a escuta e o diálogo. Pergunte ao seu filho diariamente como ele está se sentindo e participe dos eventos da escola e das reuniões de pais sempre que possível. Precisamos investir o nosso tempo de forma carinhosa e efetiva no cuidado e atenção para e com as nossas crianças”, explica o Dr. Paulo.
Outro ponto importante é a redução do tempo de telas, já que o uso excessivo impacta os cérebros em desenvolvimento, gerando consequências para as habilidades cognitivas, mentais, sociais e até para a conquista de autonomia das crianças. No geral, ao passar por algum tipo de sensibilidade ou problema mental, crianças e adolescentes apresentam alguns sinais de alerta, como:
1 - Variações no sono
Exemplo: a criança sempre dormiu muito bem, iniciando o sono por volta das 21h e acordando às 7h ou 6h para ir à escola. A partir de um certo momento, o padrão muda e ela só consegue dormir 00h, além de acordar várias vezes ao longo da noite.
2 - Mudanças no padrão de alimentação
Exemplo: a criança costumava comer todas as refeições da rotina, se alimentando da maneira adequada. Mesmo doente, continuava comendo. Do nada, começa a pular refeições e a se alimentar pouco.
3-Transformação brusca no comportamento
Exemplo: uma criança que sempre agiu de forma alegre, descontraída e agitada começa progressivamente a ficar calada, irritada e explosiva ou vice-versa.
4-Deixar de realizar atividades prazerosas
Exemplo: mesmo gostando de diversas atividades de lazer, como jogar futebol, pintar, brincar, assistir programas televisivos, sair com os amigos e a família, a criança deixa de se interessar por qualquer tipo de programação.
5-Episódios de perda do controle urinário
Exemplo: quando a criança de 3 anos volta a urinar na cama mesmo após ter interrompido esse padrão. Outro caso é quando a criança de 8 anos, que já vai no banheiro sozinha e não usa mais fralda, passa a ter escapes ao longo do dia.
6-Alteração no desenvolvimento de aprendizagem na escola
Exemplo: um filho que sempre teve um bom processo de aprendizado na escola, com notas muito boas e bom comportamento começa a apresentar dificuldades na aprendizagem, desobediência e desentendimento com os colegas.
Diagnóstico e tratamento
Em primeiro lugar, ao observar parte dos sinais dessa natureza nos filhos, os pais devem procurar o pediatra, especialmente aquele que já conhece o paciente há alguns anos.
Após avaliação, se necessário, o especialista vai encaminhar o caso para o neuropediatra ou para o psiquiatra da infância e adolescência. Por meio de anamnese, uma consulta médica bem profunda, o médico entrevista a família sobre a rotina diária da criança, de todo o histórico desde a gestação, os padrões de comportamento e as preferências.
Depois, pode optar pela aplicação de testes para avaliar uma série de questões e chegar em um diagnóstico mais seguro e definitivo, traçando uma linha de tratamento assertiva com a menor quantidade de medicação possível.
“É importante lembrar que a medicação na infância e adolescência é sempre uma exceção. O tratamento de 90% das crianças com algum problema de saúde mental envolve orientações para a readequação da rotina daquela família”, explica o Dr. Paulo.
Nesse processo, a família deve não só abrir um espaço contínuo na rotina diária para convívio, diálogo, conversa e desabafo, como também estabelecer uma organização de rotina da criança em vista de uma melhor qualidade de vida.
Ter um sono de qualidade, praticar exercícios físicos ao menos três vezes na semana, aumentar a exposição ao sol, diminuir o tempo de tela dos filhos e construir um ambiente acolhedor são medidas fundamentais. Segundo o especialista, essas atitudes resolvem a grande maioria dos problemas de saúde mental, desenvolvimento e comportamento da criança e do adolescente.
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