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Professora Virgínea Ferreira FMP Fase



por Virgínia Ferreira*

De antemão, quero deixar claro que nas palavras que irão compor o meu texto, não colocarei em questão a existência da Covid-19 e o perigo que representa à humanidade. Fatos não se discutem, se atestam. Aqui, quero promover uma reflexão em torno da paranoia que assola o mundo, porque ameaça a nossa vida. Muitos se encontram em paranóia porque são egoístas e precisam de um grande mal para colocar seus sintomas e restos não-civilizados para fora. Sobreviver a esse grande mal, como os bons, os heróis, os merecedores de continuar vivos.Soma-se a isso, o fato de que o egoísmo e a violência sempre fizeram parte da história da humanidade, da experiência humana, e são fundantes da cultura. Inclusive, se fazem presentes, por exemplo, nos livros sagrados: Caim matou Abel e a primeira “catástrofe intencional” foi o Dilúvio, castigo que Deus mandou aos homens porque estavam desobedecendo as suas leis (Gênesis 6,13).


Ao percorremos a história, tem-se alguns marcos de grandes tragédias, algumas provocadas pelos homens e outras não, como por exemplo: a “Peste Negra” (1343–1353); a “Gripe Espanhola” (1918); A Primeira Guerra Mundial (1914-19 18) e a Segunda Guerra Mundial (1941-1945); o“Acidente Nuclear de Chernobyl” (1986); o surto global de “H1N1, a Gripe Suína” (2009), o surto de “Zika Vírus” (2014-2015). Agora, a pandemia da Covid-19. De acordo com o site: “noticias.r7.com” (em 07/ 02/ 2020). Em dezembro do ano passado, o médico Li Wenliang enviou uma mensagem aos colegas médicos alertando sobre um vírus com sintomas semelhantes ao da Síndrome Respiratória Aguda Grave – outro Coronavírus mortal. Mas, foi orientado pela polícia a parar de fazer comentários falsos e foi investigado por espalhar boatos. “[…] o presidente chinês, Xi Jinping, escondeu por duas semanas as infecções pelo novo Coronavírus causador da Covid-19”. Não irei entrar no mérito da questão que fala por si próprio. Mas, se o médico Li Wenliang, em dezembro de 2019, falou sobre o novo Coronavírus e foi silenciado pelo Governo chinês, só revelando o ocorrido publicamente em 20 de janeiro de 2020, quais foram os propósitos da grave, inconsequente e criminosa omissão? É possível que não saibamos nunca, mas não se pode negar que foi a omissão o fator determinante para o surto na China e, quem sabe, até pela pandemia.

Fato é que os males que assolam a humanidade são entendidos apenas como os que nos ameaçam, que colocam em dúvida se a nossa existência terá fim num piscar de olhos, que nos deixam diante da nossa finitude de forma contundente e abrupta.Vamos pensar em dados no que diz respeito à fome no mundo e no Brasil. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) a fome atinge mais de 820 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, atinge 5,2 milhões e mata lentamente. Segundo os dados do Datasus, entre os anos de 2008 e 2017, o Brasil registrou 63.712 mortes por complicações decorrentes da desnutrição. Esse número representa uma média de 17 óbitos por dia e 6.371 óbitos por ano. Porque essas mortes provocadas pela fome não nos colocam em pânico, não nos fazem entrar em paranoia como a Covid-19? Por dois motivos principais: 1) porque a fome mata lentamente. Já as outras tragédias matam de forma abrupta; 2) porque estamos certos de que não passaremos fome. Quem passa fome e morre por doenças causadas pela desnutrição é o outro. Não sou eu, nem aqueles pelos quais tenho apreço. Qual é o nome disso? Egoísmo. Se não me atinge, não tenho preocupação, muito menos entro em paranoia. O que faço pelo outro que passa fome? Nada.

Isso se chama violência egoísta. Quando não fazemos nada pelo outro que passa fome, somos tão violentos com ele, quanto o Governo que deveria fazer alguma coisa e nada faz. Bem, a Covid-19 existe. Precisamos nos manter equilibrados (saudáveis psiquicamente) e seguir as recomendações do Ministério da Saúde. Não devemos nos deixar levar pela mídia que prioriza o número de mortes, o número de contaminados, chegando ao ponto de se lançar no risco de estimar, sem base científica, o número de pessoas que estarão contaminadas e que morrerão no dia seguinte, mas nunca quantos casos foram curados.

Senhoras e senhores, não é o fim dos tempos. Apenas mais uma repetição da história, impulsionada pela mídia parcial, militante e imoral. Para os críticos de plantão, a história é feita pelo homem e não o contrário. Vamos respeitar e seguir as recomendações fornecidas e atualizadas dia a dia pelo Ministério da Saúde, com tranquilidade e paciência. Precisamos aprender a fazer o bem a nós mesmos e ao outro, seja lá quem for esse outro. É necessário entender que não vivemos sozinhos e precisamos do outro assim como o outro precisa de nós.

Sugiro que possamos refletir sobre o que estamos passando neste momento de pandemia e que essa triste experiência possa se tornar um “ponto de virada” na história da humanidade, que despertará o sentimento de pertencimento à raça humana e, não mais um mero marco de repetição. Na qualidade de psicanalista, entendo que não conseguiremos nos livrar dos restos não civilizáveis, mas que possamos ou sublimá-los ou mantê-los sob a égide do princípio da realidade.

 

De outra forma, estaremos próximos não do final do mundo, mas da civilização, retornando ao estado de barbárie. Uma dica para enfrentamento da Covid-19 do filósofo Iraniano e pai da medicina pré-moderna, Avicena, que viveu entre os anos de 980 e 1037: “A imaginação é a metade da doença; a tranquilidade é a metade do remédio; e a paciência é o primeiro passo para a cura”. Que tal seguirmos refletindo sobre o pensamento deste sábio que viveu no século X?  


(*) Psicanalista e Coordenadora da Pós-graduação em Psicologia Clínica com ênfase nas Perspectivas Breves da FMP/Fase.


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